Fabietto, a mãe, o irmão e o pai: felicidade e tristeza na Nápoles de 1984 (foto: divulgação)
Paolo Sorrentino tem uma obra-prima no currículo: A Grande Beleza, de 2013. A Mão de Deus, da Nefflix, seu novo filme, que fica uns degraus abaixo na minha avaliação, é o representante da Itália no Oscar 2022 de melhor filme internacional.
O diretor mistura futebol e cinema para relembrar sua adolescência em Nápoles. Em 1984, ano em que a trama começa, Sorrentino tinha 14 anos, praticamente a mesma idade do protagonista, Fabietto (Filippo Scotti), filho de um casal de comunistas (Toni Servillo e Teresa Saponangelo) e torcedor fanático do Napoli e do craque Maradona.
Na primeira hora, o realizador examina, com olhar de raio x e um bocado de humor, a grande família que orbita Fabietto: além dos pais, da irmã e do irmão mais velho (Marlon Joubert), tem a avó rabugenta, a tia mentalmente perturbada, o tio cuca-fresca e outros parentes saídos das comédias italianas populares. Acho que há muitos personagens e, por vezes, o roteiro toma rumos que nada acrescentam ao eixo central. Tudo melhora na segunda parte, quando uma tragédia se abate sobre Fabietto.
É aí que o cinema de Sorrentino resplandece na sofisticação e nos detalhes. Com menos pessoas em cena e focado no jovem protagonista, a história ganha prumo: a paixão pelo futebol cede espaço para Fabietto abraçar um destino. Trata-se do que se convencionou chamar de rito de passagem da adolescência para a vida adulta.
Duas referências são explícitas: Era uma Vez na América, dirigido por seu conterrâneo, Sergio Leone, que Fabietto não cansa de assistir em VHS; e Fellini e seu Amarcord. Só que Sorrentino não é Fellini, por mais que o requinte visual e a fluência narrativa estejam estampados na tela. A Mão de Deus é uma colagem de momentos de uma vida. Ora feliz, ora passando por turbulências, Fabietto tem, ao menos, a intensa vontade de seguir em frente.
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