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Foto do escritorMiguel Barbieri

Annette: o excêntrico musical premiado em Cannes


Simon Helberg, Marion Cotillard e Adam Driver (à frente): três atores em cena em 160 minutos


Não espere de Annette, disponível apenas na MUBI, um musical aos moldes clássicos nem aos contemporâneos, como La La Land e Moulin Rouge. O que o diretor francês Leos Carax faz é inovador e singular - e não menos complexo.



Carax é um cineasta que burlou a fórmula em filmes como Pola X e Holy Motors. Não sou grande fã de sua filmografia, mas me interessei por Annette por ser um musical, pelo elenco (Adam Driver e Marion Cotillard) e por Carax ter levado o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes 2021.


A trama é simples. Henry e Ann vivem um grande amor. Com humor corrosivo, ele faz espetáculos de stand-up. Ela é uma consagrada soprano. Quando a carreira dele sofre um abalo, o casamento começa a desandar. Nasce, então, a filha, Annette.


Carax conheceu os irmãos Ron e Russell Mael, do duo Sparks, em Cannes, em 2012. Eles já tinham o roteiro de uma peça musical e apresentaram o projeto para Carax, que topou transformar em filme. Nas mãos de um realizador mais convencional, Annette seria burocrático.


O filme tem 160 minutos de duração e praticamente três atores - o outro é o maestro de Ann, papel de Simon Helberg. É cansativo, sobretudo nas cenas menos elaboradas. Quando Carax trabalha encenações propositalmente falsas, o trabalho é superlativo - vide a sequência no iate arrebatado por uma tempestade em alto-mar. Outro achado "excêntrico" é Annette ser uma marionete de madeira, o que causa uma mórbida estranheza .


O musical mistura linguagens visuais e artísticas. Às vezes, é teatro filmado; às vezes, é cinema em sua máxima essência. Amargo e sombrio, Annette é uma salada operística e pop, que não pretende ser uma unanimidade. Melhor assim.



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