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Foto do escritorMiguel Barbieri

Arde Madri: quando o riso é um ato de resistência



Debi Mazar como Ava Gardner: um peru de presente dos fãs (foto: divulgação)


O espanhol Paco León escreve, dirige e estrela suas produções. Você já ter visto Paco como ator em filmes como Toc Toc (no papel do taxista) ou na série A Casa das Flores. Mas ele brilha também como criador de minisséries, conforme demostra em Arde Madri, disponível na HBO Max.


O roteiro parte de uma premissa real para fazer uma sátira rasgada da era franquista na Espanha. Em 1961, a estrela hollywoodiana Ava Gardner (Debi Mazar) passa uma temporada em Madri (isso é real). Mas o governo do ditador Francisco Franco (que durou de 1938 a 1973) acha que a atriz está fazendo reuniões secretas em sua mansão com "comunistas" e infiltra um casal na residência para vigiá-la mais de perto.


Católica, virgem e nada atraente, a durona Ana Mari (Inma Cuesta) será contratada como governanta. Como Ava precisa de um motorista, o malandro Manolo (papel de Paco León) se passará por marido de Ana Mari. O "casal", inclusive, terá de dormir no mesmo quartinho.


Não sei se os espanhóis gostaram de ver um dos períodos mais sombrios de sua história retratados numa comédia. Eu me diverti - e muito! Fazia tempo que não dava gargalhadas.


Os diálogos são muito bem escritos, assim como as nuances dos personagens. Pode até parecer caricatura, mas Ava está quase sempre bêbada, levando para cama os homens que encontra pela frente - e tendo amnésia alcoólica no dia seguinte. Manolo é o sujeito bom de lábia que se envolve em golpes e fica nas mãos de um mafioso cigano. E há ainda Pilar (Anna Castillo), a ingênua empregada doméstica da casa, e o casal de vizinhos de Ava, os argentinos Juan Domingo Perón e Isabelita, que viviam o exílio na Espanha.


São oito capítulos, com cerca de meia hora cada e gravados em preto e branco, que eu maratonei numa noite. A história é contada de uma forma tão hipnótica que fica impossível dar stop.


Muito do sucesso, além do texto afiadíssimo, que coloca na berlinda a hipocrisia dos conservadores do regime franquista, está na atuação impecável do elenco. Situações de tensão muito envolventes e sequências de tirar o fôlego de tão divertidas se unem numa combinação irresistível.



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