Saulo: a força da resistência diante do racismo
Cabeça de Nêgo, no Globoplay, é o primeiro longa de ficção do jovem diretor cearense Déo Cardoso. Embora tenha passagens pelo curta-metragem, o realizador mostra-se ainda titubeante no comando de uma história maior e mais ambiciosa a ser contada. Mas as imperfeições não tiram o mérito de um filme de intenções nobres.
A ocupação de uma escola pública apareceu em um dos trechos da novela Amor de Mãe e a professora que ajudava na rebelião era interpretada por Jéssica Ellen, a mesma atriz que tem uma participação muito parecida aqui.
Na trama, o negro Saulo (Lucas Limeira) é o mais politizado dos alunos e lê, com muito interesse, um livro sobre os Panteras Negras. Xingado de macaco por um colega branco, ele revida e é expulso da sala pelo professor. Só que Saulo acredita estar sendo vítima de um conluio, já que anda denunciando as péssimas instalações da escola. Ele resiste e dá início a uma movimentação política e a uma série de reinvindicações.
Como se nota, Cabeça de Nêgo toca em assuntos urgentes, como o racismo e o protesto para que se façam melhorias nas escolas públicas - os vídeos postados por Saulo na internet mostram até ratos e baratas na cozinha. A força da juventude contra o sistema indica um posicionamento político - e não há como não ficar do lado dos estudantes.
Como roteirista, Déo Cardoso poderia suavizar na caricatura do diretor da escola, dos jornalistas, dos políticos. Também não me convenceu a mudança de comportamento dos alunos. No início, eles parecem alheios ao ensino, mas, no despontar da manifestação, marcam presença diante do colégio com cartazes e palavras de ordem.
Na direção, não há um equilíbrio nas atuações e o estopim, ao desfecho, me deu a impressão de um cinema-verdade malconduzido, com imagens de uma câmera muito trêmula. Déo Cardoso, contudo, é um nome a ser seguido de perto. Ideias boas e explosivas não faltam ao realizador.
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