João de Deus: denunciado por estupro e abuso sexual por mais de 300 mulheres (foto: divulgação)
Eu fiquei muito surpreso com a série sobre Elize Matsunaga, mas me desapontei com João de Deus - Cura e Crime, também lançada pela Netflix.
São quatro episódios que levam o espectador a acompanhar o caso que chocou o país em 2018: João de Deus, o mais famoso médium do Brasil (e quiçá do mundo), foi denunciado por estupro e abuso sexual por mais de 300 mulheres.
Como eu vi João de Deus - O Silêncio É uma Prece, documentário lançado nos cinemas em maio de 2018, tive um déjà-vu ao relembrar sua trajetória de cura espiritual. Até mesmo para quem não assistiu ao filme anterior, os milagres de João de Deus já foram vistos e analisados em várias reportagens.
Embora eu não tenha assistido à série Em Nome de Deus, do Globoplay, Cura e Crime teria como diferencial as entrevistas com mulheres que sofreram abusos e um bate-papo exclusivo de João de Deus, quando ele saiu da prisão para cumprir sua pena em domicílio, em março de 2020.
Os depoimentos da vítimas (ou sobreviventes, como elas preferem) são estarrecedores. Uma administradora de empresas, uma fisioterapeuta e uma produtora de eventos contam em detalhes como o médium escolhia suas presas e as obrigava a práticas sexuais chocantes, em seu escritório. Mas a entrevista com João, no finalzinho do último episódio, é um fiasco. Ele dá duas declarações e sai de cena sem aprofundar as respostas.
Há ainda entrevistas com advogados, promotores e de seus fiéis escudeiros, que ainda atendem na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia. Algo que é mal explorado, por exemplo, é como ficou economicamente o vilarejo no interior de Goiás após a prisão de seu principal morador que, aliás, controlava a cidade como um mafioso.
O material recolhido para João de Deus - Cura e Crime é bom, porém repetitivo. Se fosse um longa-metragem ou uma série em dois episódios, o resultado, mais enxuto, surtiria o mesmo efeito e não seria arrastado.
Comments