Naomi Ackie e Lena Waithe em cena de Master of None 3 (foto: divulgação Netflix)
Master of None teve temporadas em 2015 e 2017, na Netflix. Criador e protagonista, Aziz Ansari se firmou como uma espécie de Woody Allen de origem indiana, porém mais antenado com a diversidade e representatividade de Nova York. Eu adorava o humor sarcástico e as piadas espirituosas que Ansari sabia muito bem encaixar entre diálogos sobre relações afetivas, sexuais e de amizade.
Em 2017, Ansari foi envolvido num escândalo sexual, detonado no auge do movimento MeToo e se recolheu. Voltou, dois anos depois, num ótimo stand-up (Right Now) em que fazia um mea-culpa com muito humor e simpatia.
Master of None 3, que estreou no fim de maio, também na Netflix, seria a retomada de sua série. Só que não é bem isso que se nota. Escrita e dirigida por ele, essa terceira temporada, com o subtítulo de Momentos, traz Ansari apenas como um coadjuvante da história de (des)amor de Denise (Lena Waithe) e Alicia (Naomi Ackie). Denise é amiga do personagem de Ansari e foi coadjuvante nas temporadas anteriores.
Escritora de sucesso por um único livro, Denise saiu de Nova York e trocou a agitação de Manhattan para ter uma vida tranquila ao lado da esposa numa casa de campo. Só que há um entrave na vida conjugal: Alice quer ser mãe, mas Denise não é muito entusiasta da ideia.
Como roteirista, Ansari parece querer trilhar o caminho de Woody Allen que, em meados da década de 80, trocou a comédia pelo drama. Como diretor, ele percorre um caminho mais, digamos, artístico, emulando a estética e o ritmo do cinema autoral europeu. Dedica, por exemplo, um único episódio (o quarto) para mostrar o périplo de Alice para tentar engravidar numa clínica de fertilização.
Aziz Ansari amadureceu? Sem dúvida. Master of None 3 invade o universo feminino, as relações homossexuais e a maternidade como se fosse um "pedido de desculpas" de Ansari por ter sido um ególatra focado em seus dilemas masculinos nas duas temporadas anteriores. O resultado, contudo, da terceira temporada é irregular, tanto que há episódios (são cinco no total) de quase uma hora e outros com menos de 30 minutos.
Assim como o drama "bergmaniano" foi um curto período na carreira de Woody Allen, espero que a comédia volte rapidinho a reinar nas histórias de Aziz Ansari.