Os irmãos na reserva indígena: retalhos de afetos (foto: divulgação)
Fiz um caminho quase inverso com a filmografia de Chloé Zhao. Vi, em 2019, The Rider - Domando o Destino e, em abril deste ano, assisti a Nomadland, seu mais recente trabalho que ganhou o Oscar. E só, então, assisti a Songs My Brothers Taught Me, seu primeiro longa-metragem, que está disponível na MUBI. Foi curioso observar a trajetória da cineasta.
Em Songs My Brothers Taught Me, Chloé também trabalhou com não atores e a maioria das histórias foi, inclusive, extraída do cotidiano dos personagens. Essa maneira neo-realista de construir seu cinema é o grande trunfo da diretora chinesa. Ela sabe, exatamente, com quem falar e como falar com pessoas excluídas da sociedade e do "american dream" - também foi assim no mais depurado Nomadland.
Os dramas aqui transcorrem na reserva Indígena de Pine Ridge, em Dakota do Sul, e focam, sobretudo, a trajetória de dois irmãos. O jovem John faz contrabando de bebida alcoólica e quer mudar com a namorada para Los Angeles. Sua irmã caçula, a adolescente Jashaun, perambula pelas terras indígenas e acaba se oferecendo para ajudar um tatuador, recém-saído da cadeia, a vender suas roupas artesanais.
John e Jashaun são muito próximos, moram com a mãe solteira, têm um pai com quem não se falam e um irmão mais velho que está preso.
O cinema de Chloé Zhao, desde sua origem, é feito de retalhos de afetos, de conflitos familiares, de dramas intimistas que refletem o lado B da América. A câmera da diretora se fixa no rosto de não atores de origem indígena e se abre para mostrar a amplitude da região montanhosa de Pine Ridge. É um cinema feito com olhar clínico e a sensibilidade de uma estrangeira em território a ser explorado.
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